A mulher na longevidade: uma natureza transgressora?

Liliane Longman Por Liliane Longman

O Dia da Mulher nos leva a refletir como devemos, entre outras coisas, exercitar a gratidão para escolher nosso tempo livre sem compromissos (Foto: Freepik/Banco de Imagens)

Geral, publicado em 6/03/2020

A vida hoje, comparada com os padrões de conforto do passado, está mais digna e, consequentemente, mais longeva. Pesquisas e fatos apontam para o nascimento de um novo tempo cronológico de vida. No entanto, a condição do idoso na atualidade não tem ainda alterado, de forma significativa, a intolerância social. Os valores e novos papéis que temos assumido na sociedade ainda estão por ser enfrentados e ressignificados. A cultura da incapacidade ainda é resistente.

Nesse cenário, nós, as mulheres com mais de 60 anos, começamos a romper não só os estereótipos da idade, mas avançamos na luta feminista. Hoje o feminismo se coloca no seu terceiro eixo, como um novo humanismo, que defende o desabrochar da pessoa humana. Isso não quer dizer que podemos nos iludir com a herança do machismo e da violência do homem contra a mulher.

Leia também: Feminismo: a maternidade como questão

Dar vida e significado aos anos que conquistamos é uma das máximas que defendemos e, como mulheres longevas, reafirmamos a nossa natureza transgressora.

A história das mulheres tem a marca da desobediência e, para nós, essa sempre será a nossa marca para ampliar as fronteiras e elevar a consciência de um mundo melhor.

Nunca poderemos esquecer a herança do feminicídio na história da humanidade, quando queimavam as nossas bruxas curandeiras e condenavam a desobediência de Eva como a perda do paraíso. Não entenderam essas transgressões e desobediências como enriquecimento da humanidade. Sem a desobediência de Eva, continuaríamos a ser e viver iguais aos animais e não seríamos os humanos.

A nossa desobediência e transgressão aponta que, para viver melhor, é se arriscar, é aprender a reconhecer nossas ambivalências e dificuldades; é romper com a mesmice e ter coragem para inventar o novo. E também, ser capaz de transcender a uma realidade maior, como a arte.

Com esses exemplos, podemos dizer que a longevidade nos trouxe outra desobediência: desconstruir os velhos valores da velhice e construir a longevidade como um bem cultural que enriquece a humanidade.

Comemorar o dia internacional da mulher, nessa fase da vida, é continuar com a nossa tradição de desobediências e de rebeldias cantando e praticando a gratidão com cada dia recebido.

Gratidão às mulheres que deram a vida pela igualdade e liberdade;

Gratidão pelas mulheres que conseguiram espaços de poder contra a violência de homens;

Gratidão por sentir que a vida sempre é um recomeço;

Gratidão por amar a família e os amigos de quem recebemos tanto;

Gratidão pelo trabalho criativo e prazeroso que realizamos todos os dias;

Gratidão pela liberdade de ir e vir e de gritar;

Gratidão para escolher nosso tempo livre sem compromissos;

Gratidão de sentir a tristeza da saudade sem adoecer;

Gratidão pela fé no outro e na esperança de um mundo melhor.

A gratidão é o maior sentimento que podemos exercitar por uma vida que produz novos significados, e ao mesmo tempo, celebra nossos desejos e prazeres na velhice.

Compartilhe

Tags:
Comentários