O que as memórias de velhos amigos nos ensinam sobre gentileza e solidariedade


Os reencontros podem ser uma boa forma de recuperar essa amiga esquecida de nós e por nós (Foto: Freepik/Banco de Imagens)
Depois de mais de 30 anos, encontrei uma antiga colega de escola. Costumo dizer que é preciso se reapresentar de novo para não causar constrangimento com nenhuma das partes.
Não a reconheci. Tinha alguma lembrança do seu olhar e da sua voz. Demorei um pouco para lembrar.
Como meu nome estava fácil para ela, o dela me faltava. Usei umas estratégicas terapêuticas que tinha aprendido, usei pronomes genéricos até que ela e o nome me voltassem à mente. Alívio. Não há coisa pior do que não lembrar de quem se lembra da gente.
Já vivi situação contrária, mas a outra pessoa não se lembrou mesmo de mim. O sentimento que tive não foi de denunciar sua perda de memória, mas do quanto eu fui insignificante, medíocre e que não lhe deixei nenhuma marca. Se ela não se lembrava de mim, isso significava que tão sem sabor eu fui para ela, estive só de rápida passagem. Eu sobrei para ela, falhei. Triste.
De repente, chega outra amiga e nos apresenta uma fotografia do passado. Estamos lá habitando vivos. Será que ainda somos aquela para ela? Será que seremos congelados nessa foto?
Penso que a memória do outro é sempre um arquivo do nosso passado, de como éramos, de como nos relacionávamos, de como éramos bons ou ruins.
A verdade dessa história toda é que seremos sempre a memória do que o outro construiu de mim e de quem somos para ele e, mais ainda, tem o poder de confirmar nossa existência. Acho que essa é a questão que nos interessa: confirmar que estamos vivos e que existimos, apesar de tudo.
Os reencontros podem ser uma boa forma de recuperar essa amiga esquecida de nós e por nós, restaurando novos experiências, relatando novas histórias para que ninguém fique perdido ou esquecido. As relações possibilitam se fazer novos pactos, conservando os melhores momentos sem os constrangimentos de novas perdas da memória.
Acho que nossos netos poderiam pensar um pouco sobre isso e ver a importância de ser uma pessoa significante na vida dos amigos e colegas – e principalmente ser gentis e cuidadosos com os outros.