Um terraço onde se compartilham vozes, solidariedade e experiências de vida

Geração Xmais Por Geração Xmais

O Terraço Cultural é formado por um grupo de pessoas com um propósito em comum: compartilhar ideias, conhecimentos e experiências de vida (Foto: Jerônimo Poggi/Geração Xmais)

Geral, publicado em 5/12/2019

Amizade e solidariedade são palavras que caminham juntas. Aos nossos amigos, fazem questão de sermos solidários e, em igual maneira, quando a gente faz brotar solidaridade diante de alguma pessoa, desponta um universo capaz de aflorar uma semente de amizade.

É assim que acontece, há quase seis anos, num momento chamado de Terraço Cultural – fruto de uma ideia do administrador Ricardo Rodrigues, 85 anos, que decidiu criar um grupo de pessoas com um propósito em comum: compartilhar ideias, conhecimentos e experiências de vida.

Todos os sábados à tarde, vinte pessoas, em média, entre homens e mulheres, reúnem-se no terraço da casa de Ricardo, no bairro de Casa Forte, Zona Norte do Recife.

É um encontro intergeracional pra lá de harmônico, segundo Ricardo. “Participam pessoas de várias faixas etárias. Por exemplo: há um rapaz de 14 anos, uma jovem por volta dos 25 anos e um senhor de 91 anos”, conta Ricardo, que decidiu criar o Terraço Cultural depois que perdeu a visão. “Fiquei sem condições de ler e, então, tive a ideia maravilhosa de reunir tanta gente, como escritores e acadêmicos. Já se vão 48 reuniões realizadas. Em julho de 2020, o grupo completa seis anos. Debatemos sobre vários assuntos importantes e relevantes para a sociedade, como obras literárias e bairros do Recife. Todos participam e têm voz. É algo saudável e especial”, complementa Ricardo, que criou o Terraço Cultural em parceria com o primo, o médico pediatra Fernando Azevedo, cuja crônica segue abaixo.

Terraço Cultural: a Acacádemia

“Terraço lembra casa, espaço de um imóvel onde se desfrutam reuniões e aconchego”, diz Fernando Azevedo

Por Fernando Azevedo

O Terraço Cultural é uma associação extremamente interessante e pode ser analisado sob diversos aspectos. O primeiro é do ponto de vista arquitetônico, urbanístico. Terraço lembra casa, espaço de um imóvel onde se desfrutam reuniões e aconchego. Varanda lembra apartamento e para chegar a ela, pessoas estranhas tem que ser identificadas maioria das vezes. Numa casa o acesso é fácil e bem-vindo, sobretudo no nosso, onde automóveis entram sem pedir licença, e o estacionamento é fácil.

Outro aspecto importante é o social – e foi essa a principal razão do seu nascimento, que completará seis anos em julho de 2020. Ricardo Breno, o nosso Cacá, pessoa extremamente culta e de uma memória prodigiosa, sentia falta de uma conversa, pois a ele foi imposta a viuvez e a perda da visão. A maioria das pessoas não suportaria essas condições e fatalmente a depressão se instalaria.

Como somos primos, do tempo que primos e irmãos se confundiam, sempre estive ao seu lado durante toda a nossa vida familiar, esportiva e social. Graças a conversas, cada dia mais raras nesse mundo mudo, resolvemos experimentar. Reunir pessoas. E deu certo.

Convidava-mos palestrantes para falarem dos assuntos mais variados possíveis, tendo a modéstia como referência. A erudição era dispensável. Títulos também. A igualdade era a meta e todos (quase trinta frequentadores habituais) são diretores-presidentes “com todos os direitos e nenhuma obrigação”, como Cacá faz questão de saudar o novo membro que vem ao nosso Terraço. Nossa ACACÁDEMIA, como diz gostosamente Reinaldo Oliveira, não é monótona porque todos os assuntos, todas as informações, são sempre valiosas.

Praticamente todos os frequentadores estão acima dos 60 anos, mas já tivemos palestra de um adolescente. Para nossa felicidade, outro jovem de 14 anos acompanhou a mãe em uma das reuniões e nunca mais faltou a uma. E disse com a maior honestidade que “gostaria de ter vivido no tempo dos senhores”. Nada mais puro, nada mais sincero. A juventude de hoje passa por uma fase de solidão, de competição e de isolamento social que está abarrotando consultórios de psicanalistas e cemitérios, pois a cada dia aumenta o suicídio em adolescentes.

O preocupante para nós é a continuidade dessa sociedade, pois aparentemente não temos herdeiros. Além disso, não temos terraços. O nosso é ímpar e, se ele acabar um dia, poderemos dizer orgulhosamente que ELE EXISTIU.

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