Um viva à vida: Geração Xmais visita a exposição em homenagem a Guita Charifker

Anamélia Poggi Por Anamélia Poggi
Guita

A exposição 'Guita Charifker – Paisagem Onírica' apresenta a trajetória de intensa atividade artística da pintora pernambucana, que faleceu em 2017, e reconhecida nacional e internacionalmente pela maestria na aquarela figurativa (Foto: Jerônimo Poggi/Geração Xmais)

Geral, publicado em 14/11/2019

Geração Xmais em movimento, na exposição póstuma de Guita Charifker, com sua filha Rosaly e Cristina Maranhão, grande amiga. Trazendo a artista fora da tela, elas falam da sua convocação: “Viva a Vida“. Esta definiu seus passos e seus traços na firmeza de quem segue os ditos da alma. “Ela nunca rasgou um papel, ela nunca errava”, referia-se Rosaly à técnica da aquarela com a qual substituiu o bico de pena e onde não há espaço para correções. Sobre a transição do preto e branco para o colorido, contam que se deu no México, onde as cores a invadiram e a aquarela respondeu ao seu chamado. De volta, Guita se manteve universal sendo regional com a forte presença da flora e fauna na sua obra. O envolvimento afetivo, sensual e imaginário de Guita com a vida se pôs na sua tela e nos põe na cena.

Confira a nossa galeria de fotos, produzidas pelo fotógrafo Jerônimo Poggi:

Cristina, confidente, amiga permanente no cotidiano de Olinda, vê-se ainda no privilégio deste convívio. E quando Rosaly lembra, ainda muito pequena, dizendo à mãe para ser como a mãe de suas amigas: fazendo bolo, indo para reunião na escola. Cristina diz: “Guita era uma mulher à frente do seu tempo”. Foi nesta confirmação ao longo da vida que a filha aprendeu a admirar tanto aquela mulher, cuja intensidade não cabia na rotina doméstica, pois seu compromisso era com o mundo. Deste, saiu aos 80 anos; mas das telas aos 73, seu organismo lhe traiu não lhe dando mais condições de se colocar inteira nos seus traços.

Foi na beleza do cuidar afetivo que a filha enxergou o caminho para esticar sua produção. Apelou para os cajus e assim Guita seguiu; produzindo cajus e cajus para dar aos amigos. Fez valer o seu dito: “minha vida tem sido constante exercício da amizade”.

Quando enfim desistiu da tela, perdeu o sentido da sua vida. Porém, em meio às obras expostas, vem a fala de outro grande amigo, o pintor José Claudio: “Há sempre em tudo a busca do paraíso, a terra prometida…”

Um depoimento sobre Guita

“Guita, antes de artista, foi uma mulher à frente do seu tempo. Uma judia de todas as religiões de amor, incluindo as afrodescendentes. Sabia agradar os amigos e o limite era das aquarelas. Encontro permanente com a natureza, numa época que a ecologia ainda não estava em moda. Essa exposição nos leva ao tempo saudade”, diz a integrante da Geração Xmais Liliane Longman.

Sobre a exposição

Caixa Cultural Recife inaugura a exposição Guita Charifker – Paisagem Onírica, que apresenta a trajetória de intensa atividade artística da pintora pernambucana, que faleceu em 2017, e reconhecida nacional e internacionalmente pela maestria na aquarela figurativa.

Com curadoria de Marcus de Lontra Costa, a mostra traça um panorama de sua produção reunindo obras produzidas desde a década de 1960 e também fotos e vídeos que irão apresentar a artista e as fases de sua obra.

Com entrada franca e patrocínio da Caixa Econômica Federal, a mostra fica em cartaz até o dia 17 de novembro de 2019, com visitação de terça-feira a sábado das 10h às 20h, e nos domingos, das 10h às 19h.

A mostra, que começou a ser idealizada com a artista ainda em vida, torna-se a primeira exposição póstuma em sua homenagem. São apresentadas cerca de 60 obras, entre gravuras, desenhos, pinturas e em especial as aquarelas, técnica na qual Guita encontrou seu principal meio de expressão e nas quais utiliza uma gama cromática surpreendente e luminosa. As peças foram selecionadas de coleções particulares e também do acervo pessoal e familiar de Charifker.

Saiba mais sobre Guita

Pintora, desenhista, aquarelista, gravadora e escultora, Guita Charifker nasceu no Recife em 1936 e desde cedo se engajou no movimento artístico da cidade. Aos 17 anos, estudou desenho e escultura no Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna, no Recife, ao lado do gravador Gilvan Samico e do pintor José Cláudio, entre outros, sob orientação de Abelardo da Hora. Desde o fim da década de 1960, Guita Charifker produziu desenhos de inspiração surrealista, associando formas humanas a animais e vegetais, realizados com precisão de detalhes, em obras de forte impacto visual e caráter fantasioso.

Na aquarela, passou a retratar naturezas-mortas com plantas e frutos regionais, explorando padrões decorativos obtidos a partir de folhagens e ramos de árvores, ou de objetos presentes na cena, como tapetes ou tecidos. Nas aquarelas são frequentes também as paisagens, inspiradas muitas vezes na exuberante vegetação do quintal de sua residência em Olinda ou nas localidades do litoral pernambucano.

Para Marcus Lontra, curador, “a aquarela do trabalho da Guita tem um movimento que permite que ela pinte o vento. As aquarelas aguadas são menos rígidas, capturam esses movimentos e permitem que a artista demonstre essa relação bonita com Olinda, que é uma espécie de barroco sem culpa, à beira mar”.

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